Regina Duarte já foi um dos principais nomes do elenco da Globo. Protagonista de algumas das novelas de maior sucesso da emissora – como Selva de Pedra (1972), Roque Santeiro (1985), Vale Tudo (1988), Rainha da Sucata (1990) e Por Amor (1997) –, a atriz viu sua relação com a empresa estremecer nas últimas décadas, até chegar ao fim, em 2020. Hoje, ela raramente aparece na TV e não é chamada para nenhum projeto.
Na análise de Regina Duarte, seu “cancelamento” veio bem antes desse termosurgir, no contexto das redes sociais. Não começou no apoio e aliança a Jair Bolsonaro, nos últimos anos, mas em 2002, quando Lula foi eleito Presidente da República pela primeira vez. Na ocasião, ela fez campanha contra o petista com o lema "Eu tenho medo".
+ Por onde andam os filhos da Dona Armênia de Rainha da Sucata? Novela retorna no Globoplay
continua depois da publicidade
VEJA TAMBÉM
Raquel Brito relata experiência de quase morte
Sucesso de Chaves no SBT expõe que a TV atual perdeu a conexão com o público
Record mira em equipe com "cara de Globo" para cobrir o Brasileirão
Essa é uma das percepções que a atriz expressa nesta entrevista exclusiva ao NaTelinha. “Mesmo ganhando salário generoso de protagonista”, como ela ressalta, os convites para fazer novelas diminuíram desde então. Após 2002, o único papel principal foi em Páginas da Vida (2006).
Há quatro anos, Regina rompeu de vez o contrato com a Globo para assumir a Secretaria Especial da Cultura no governo Bolsonaro. Alegando sentir falta da família, ficou somente dois meses no posto. Deixou a função anunciando que assumiria a Cinemateca de São Paulo, o que não aconteceu.
A aproximação de Bolsonaro lhe rendeu uma indisposição com boa parte da classe artística, em sua maioria crítica ao ex-presidente. “Os laços [com amigos e colegas] já existentes antes de 2018 permaneceram, com raríssimas exceções”, garante a atriz, que continua dizendo o que pensa a 3,2 milhões de seguidores no Instagram – e, por vezes, gerando controvérsias.
continua depois da publicidade
Antes de a atriz expressar sua opinião política de forma tão contundente, as protagonistas na TV eram recorrentes. Uma delas voltará ao ar em breve – ao que tudo indica, interpretada por Taís Araujo: a incorruptível Raquel de Vale Tudo. Clássico exibido originalmente entre 1988 e 1989, a novela ganhará um remake em 2025, em comemoração aos 60 anos da Globo.
Regina opina sobre a escalação da colega para o papel e também diz o que pensa sobre os remakes: ela é a favor de novas versões de tramas que não fizeram tanto sucesso no passado. Aos 77 anos e longe da TV desde Tempo de Amar (2017), a veterana se dedica à carreira de artista plástica, profissão que descobriu por acaso, como conta a seguir.
continua depois da publicidade
Leia, na íntegra, a entrevista com Regina Duarte
NaTelinha: Como e quando as artes plásticas entraram na sua vida? Conte um pouco de sua história com essa forma de expressão.
Regina Duarte: Em janeiro de 2023, em férias no Rio de Janeiro, eu atravessava todos os dias um parque super arborizado. As folhas secas caídas chamavam minha atenção, e comecei a recolhê-las para guardá-las em livros como fazia quando era garota.
Semanas depois, interessada na coloração e textura que elas adquiriam, passei a coletar papelões no bairro para guardar minhas “preciosidades”. Ver as folhas coladas na forma de quadros me absorveu de um jeito novo, encantador e tão compulsivo que eu criava, às vezes, mais de dez pequenos quadros.
continua depois da publicidade
NaTelinha: Há alguma previsão para o retorno à atuação, na TV, no teatro ou no cinema? Convites têm chegado?
Regina Duarte: Não. Estou envolvida em novas atividades artísticas, pintura, colagem botânica, canto, dança, literatura... A arte nos liberta, somos donos do nosso tempo e da nossa criação.
NaTelinha: Um de seus principais trabalhos na televisão, Vale Tudo, vai ganhar um remake em 2025. Qual a sua opinião sobre a ideia de fazer uma releitura dessa novela?
Regina Duarte: A ideia parece fascinante, mas existem muitas novelas que não fizeram tanto sucesso no passado e que mereceriam um bom remake.
continua depois da publicidade
NaTelinha: A mais cotada para interpretar Raquel na nova versão é Taís Araújo. O que acha dessa escalação?
Regina Duarte: Taís é uma atriz excelente. Ela sempre dará vida a qualquer personagem, e Raquel é um “prato cheio”.
NaTelinha: Por décadas, a senhora foi um dos principais nomes do elenco da Globo. Assiste às novelas atuais? O que acha das produções recentes da TV?
Regina Duarte: Não tenho acompanhado as novelas de hoje em dia. Acredito que deve estar difícil para os autores segurar a audiência. O público atual vem se viciando em maratonar séries.
NaTelinha: A senhora não esteve entre os entrevistados no tributo a Manoel Carlos, lançado pelo Globoplay neste ano, e sua ausência gerou polêmica. Um texto compartilhado por sua filha Gabriela falava em "cancelamento". Sente que foi "cancelada" pela Globo?
continua depois da publicidade
Regina Duarte: Não me preocupei por não ter sido chamada. O Maneco sabe o quanto sou sua fã “de carteirinha”. Quanto ao cancelamento, isso já vinha acontecendo, de certa forma, desde 2002, quando declarei “ter medo” do Lula para presidir o Brasil.
Desde então, mesmo ganhando salário generoso de protagonista, nos 18 anos seguintes fui convidada para fazer só três novelas inteiras: Páginas da Vida (2006), O Astro (2011) e Tempo de Amar (2017).
Claro que, neste período, houve também convites para participações especiais como em: Três Irmãs (2008), a deliciosa Waldete com W; Sete Vidas (2015), a bissexual Ester; Império (2014), a Maria Joaquina, contrabandista de pedras preciosas brasileiras; e A Lei do Amor (2016), a Suzana, que morre num acidente de carro poucos capítulos depois da estreia.
continua depois da publicidade
Adendos: A atriz cita Waldete como “participação especial”, mas a personagem, apesar de secundária, permaneceu em Três Irmãs do início ao fim. Já Ester chegou em Sete Vidas no segundo mês da novela e também seguiu até o desfecho da trama.
NaTelinha: A defesa de Jair Bolsonaro lhe gerou uma indisposição com grande parte da classe artística. Foi possível manter laços nesse cenário?
Regina Duarte: Sim. Os laços já existentes antes de 2018 permaneceram, com raríssimas exceções, graças a Deus.
NaTelinha: A senhora é bastante ativa nas redes sociais e usa seu perfil para dar opiniões sobre assuntos diversos e, às vezes, polêmicos. Qual a importância desse espaço no seu dia a dia?
Regina Duarte: No meu dia a dia, exerço com prazer no Instagram o que considero importante como atriz e brasileira. Participo dos acontecimentos do país divulgando meu viés diante do que acontece. É um meio de comunicação com meus compatriotas e fãs.
continua depois da publicidade